QUINTA DO FALCÃO
Resenha histórica
A Quinta do Falcão situa-se em Almagreira, freguesia conhecida como o coração da Ilha Santa Maria, pela sua centralidade. A propriedade constitui um edificado que se encontra sujeito, pela Secretaria Regional de Educação e Cultura do Governo Regional dos Açores, a procedimento para a classificação de Imóvel como de Interesse Público, atento seu valor histórico-patrimonial, cultural e arquitetónico
O aglomerado (casario e terrenos de cultivo) a que se chama “Falcão”, deve o seu nome ao seu primeiro proprietário, João Falcão de Sousa, 10.º Capitão do Donatário da Ilha de Santa Maria.
Segundo Gaspar Frutuoso registou: “(…) João Falcão de Sousa, foi sargento e capitão-mor da ilha de Santa Maria, por carta de D. João IV, de Maio de 1654. João Falcão de Sousa governou a ilha na menoridade de Brás Soares de Sousa, 7.º capitão-donatário, desde a dita data de nomeação, acima mencionada, até à sua morte, que ocorreu a 12 dezembro de 1657. Foi superintendente das fortificações da ilha de Santa Maria, e, como tal, diligenciou completar a defesa da ilha, não só em Vila do Porto como em todos os pontos onde havia facilidade de um inimigo entrar. João Falcão de Sousa foi voluntariamente ao cerco do castelo da ilha Terceira [(1641-1642)] na época da Restauração e edificou, juntamente com sua mãe, a ermida de Nossa Senhora da Boa Nova, em Vila do Porto, junto das casas da sua residência, dando-lhe património por escritura pública de 6 de Abril de 1657. Já em 16 de Novembro de 1653 dera património para a ermida de Nossa Senhora da Graça, que erigira numa sua quinta. Morreu solteiro, deixando numerosa descendência ilegítima e havendo feito testamento a 25 de Abril de 1657, aprovado a 12 de Dezembro do mesmo ano. Foi sepultado na capela-mor da referida igreja do convento de São Francisco.”
Em meados do século XIX, Maria Guilhermina da Boa Nova de Sousa Coutinho, nascida em 1770, filha de José Inácio de Sousa Coutinho, capitão-mor de Santa Maria, viúva e sem herdeiros diretos, passou todos os seus bens, por volta de 1850, a seu primo em 3.º grau João Severino Gago da Câmara “Velho”, casado com Maria Guilhermina Falcão Gago da Câmara e que teve dois filhos: Victor Gago da Câmara e João Severino Gago da Câmara, este, trisavô do atual proprietário da Quinta, Nuno da Câmara Cabral Cid Moreno.
João Severino, casado com D. Adelina Bytton Bensaúde Gago da Câmara, teve um único filho, de nome Jacinto Gago da Câmara, advogado e Conservador do Registo Predial em Coimbra, casado com Maria Eduarda Palmira d’Albuquerque Vilhena Soares de Albergaria. Jacinto Gago da Câmara morreu precocemente com febre tifoide, aos 32 anos, depois de deixar dois filhos: Maria Jerónima Soares de Albergaria Caldeira Gago da Câmara e Jacinto Soares de Albergaria Caldeira Gago da Câmara.
João Severino Gago da Câmara “Velho” tinha grandes propriedades na ilha de Santa Maria (a cor “sangue-de-boi” caracteriza todos os prédios da família). O Outono e Inverno eram passados no Solar da Boa Nova, em Vila do Porto, atual Biblioteca Municipal, a Primavera na Quinta do Falcão e o Verão na Quinta de Jesus, Maria e José, na Baia de S. Lourenço. O Solar de Boa Nova, com igreja anexa, foi adquirido pela Câmara Municipal para instalar a Biblioteca Pública de Vila do Porto. A grande reparação e reconstrução que sofreu apagou quase todos os vestígios da Igreja da Boa Nova, que tinha dado o nome à rua.
João Severino Gago da Câmara “Velho” conseguia embarcar e desembarcar na ilha sem sair do que era seu. Embarcava no porto dos Anjos, que eram terra sua, e desembarcava na Praia, que também lhe pertencia. Em S. Lourenço João Severino tinha criados postados no Portão da Quinta de Jesus, Maria e José que tocavam uma corneta para alertar o pessoal da quando ele estava quase a chegar, lá pelo Verão.
Conforme diz Arsénio Chaves Puim, a Quinta do Falcão era conhecida como a “Casa do Pai”, como forma de exprimir a ideia de que era o sítio que dava de comer a muita gente, não só pelo trabalho mas também porque supria de modo generoso e altruísta a fome e necessidades do povo. Parte das crias de mais de trezentas cabeças de gado existentes na Quinta, eram oferecidas, assim como géneros alimentícios.
João Cabral chegou a ouvir os mais velhos dizerem que o senhor João Severino Velho chegou a meter vinte carros de bois ao caminho nos seus trabalhos agrícolas. A ajuda também abrangia, por vezes, a construção de casas de habitação para alguns trabalhadores. A Igreja de Almagreira foi construída num espaço doado por João Severino “Velho” e a sua construção foi em grande parte feita pelos homens de João Severino.
O retângulo de entrada na Quinta do Falcão também tinha utilidade. Era aproveitado para encenar os “Teatros”, peças de teatro de sabor popular levadas à cena para animar o povo. Nessas alturas o espaço era aberto a toda a gente
Por morte de João Severino Gago da Câmara, filho de João Severino “Velho”, ocorrida em 5.12.1950 e da esposa D. Adelina Bytton Bensaúde Gago da Câmara em 1958, coube em sortes, a seus netos, em co-senhoria o Solar da Boa Nova, a Quinta de Jesus Maria e José, na Baia de S. Lourenço, a Jacinto Gago da Câmara e a Quinta do Falcão a sua irmã Maria Jerónima Gago da Câmara. Quando esta senhora faleceu, em 2009, calhou essa Quinta a seu neto, Nuno da Câmara Cabral Cid Moreno, atual proprietário, e trisneto de João Severino Gago da Câmara.